Escrever é um grande desafio. Nunca imaginei que passaria e teria a oportunidade de periodicamente, poder compartilhar algo tão íntimo. Digo que escrever é um ato íntimo, pois os amantes das letras podem identificar em cada vírgula, figura de linguagem ou parênteses, as mais obscuras intenções daquele que ousa sujar um papel com tinta ou, como na atualidade, gasta as pontas dos dedos num teclado.
Ao fazer um esforço, consigo lembrar algumas clássicas passagens (pelo menos pra mim) sobre a dificuldade do exercício permanente da escrita. Lembro a dor que Clarisse Lispector, em A hora da Estrela sentia ao escrever cada palavra, como se dela fosse um pedaço arrancado. Vários dos grandes observadores do dia-a-dia, como Luis Fernando Veríssimo, Rubem Fonseca, Fernando Sabino, Vinícius de Moraes (sim ele!) discorreramsobre a falta de assunto, mas o grande mestre na arte de escrever sobre a falta do que falar e a dificuldade de escrever foi Rubem Braga.
O próprio, emuma das vezes que abordou o assunto (Ao respeitável público 1934), anunciou que chegara seu dia de escrever sobre a falta do que dizer, que coincidentemente (ou não), era uma tarde quente e perto de um final de semana de Carnaval. Mas o que quero dizer é que ainda não chegou o meu dia, entretanto, entendo todos os gigantes que citados, longe de quaisquer comparações.
Na verdade eu consigo imaginar que todos eram pessoas, de certa maneira, tímidas.Pense no que talvez seja o menos tímido: Vinícius (a despeito de ser um grande mulherengo) só de ficar conhecido por “cantar baixinho”, é possível imaginar alguém com sérios problemas de timidez.
Fernando Sabino,tão tímido era,que queria voltar a ser criança. Luis Fernando Veríssimo inclusive escreveu sobre sua notória timidez e o horror de ser notório. Rubem Fonseca, que do alto de seus noventa anos e contínua produção, quase não faz aparições públicas ou dá entrevistas. Talvez a timidez seja algum pré-requisito à genialidade…
Posto o grande desafio de escrever, não farei como Rubem Braga, que por mera cretinice mandou um “passar mal” aos leitores. Desejo a paz do Senhor a todos, pois se há desafio maior do que escrever é ter quem leia os seus íntimos devaneios. Até breve.