A FANTÁSTICA SAGA DA PADARIA BATEL

A FANTÁSTICA SAGA DA PADARIA BATEL

A história da Família Bürgel no Brasil começa no final do século XIX. De origem austríaca, os primeiros Bürgel a imigrarem para o Brasil foram Johann Bürgel e sua esposa Marianna, pais de Franz e Johann Paul.

Vieram de navio e passaram pelo Paraná (Paranaguá), mas não desembarcaram seguindo viagem para o Rio Grande do Sul. Johann Paul fixou residência no Rio Grande, tornando-se o patriarca do clã Bürgel gaúcho.
Após alguns anos, por volta de1882, incentivados pelo presidente da Província do Paraná, Lamenha Lins, o casal Johann e Marianna Bürgel e seu filho Franz (1859/1909) decidiram mudar-se para Curitiba.

Chegando a Curitiba, a família Bürgel se instalou na região do Batel, bairro que reunia grande quantidade de imigrantes alemães e austríacos. Alguns anos mais tarde, o jovem Franz, já com seu nome abrasileirado para Francisco Bürgel, por influencia de seu pai, padeiro de profissão, fundou a Padaria Batel, mantendo ainda um armazém de secos e molhados.

Quando vieram para o Brasil da Áustria os Bürgel conheceram ainda no navio o casal Henrich e Guilhermina Thetken. Em Curitiba, os reencontram e o jovem Franz casa-se com a filha do casal, Mathilde Thetken (1874/1973). Desta união nasceriam seis filhos, sendo o primogênito Richard Bürgel (1894/1986), que logo a primeira grande guerra, teve seu nome alterado para Ricardo Bürgel.

Em 1909, no dia do nascimento de seu sexto filho, falece Francisco aos 50 anos. O jovem Ricardo com apenas 15 anos assume então a posição de seu pai como mantenedor da família e administrador da padaria, armazém e demais investimentos de Francisco. O bonde ainda dividia o espaço com os carroções dos colonos que, vindos de Campo Largo, entravam pelas atuais rua Bispo Dom José e avenida do Batel, vendendo mantimentos aos moradores e entregando o cereal no comércio da cidade, os carroceiros lanchavam na Padaria Batel dos Irmãos Bürgel e retornavam em direção à campanha.

Alguns colonos ainda recolhiam roupas para lavar, trazendo-as limpas e engomadas na próxima viagem a Curitiba. Nesta época a Padaria Batel era um marco na região, que contava já com grandes mansões, algumas indústrias e muitas chácaras.

A padaria ocupava parte da quadra entre as ruas Bento Viana e Francisco Rocha, com seus dois prédios, o primeiro com dois andares abrigava no térreo uma loja de secos e molhados e no segundo andar a residência da viúva Bürgel.

No outro prédio, aos fundos do primeiro, encontrava-se a padaria com seus fornos, batedeiras, cilindros, massadeiras e demais equipamentos para elaboração de grande variedade de pães, bolos, bolachas e o famoso pão de mel Bürgel.

No endereço do mesmo prédio, uma ampla construção em três pavimentos, encontrava-se também uma sofisticada carpintaria na qual eram elaborados os utensílios para a confecção e distribuição dos produtos da padaria (pás, cestos, rolos, etc.) na época feitos de madeira; bem como a manutenção dos carroções que efetuavam a distribuição diária dos produtos por toda Curitiba. Estes carros (mais de 40) eram então puxados por cavalos e mulas.

Em Curitiba surgiram outras boas padarias, uma delas fundada por Eduardo Engelhardt, que com apenas 14 anos, deixou de trabalhar na Cervejaria Glória de seu pai Friedrich Engelhardt e foi aprender o ofício de padeiro na Padaria Batel e em 1913 fundava a sua própria padaria, inicialmente na esquina das ruas Sete de Setembro e Alferes Poli.

O estabelecimento ganhou em 1914 o nome de Padaria América quando houve a mudança de endereço para a então Rua América, hoje Rua Trajano Reis.

A Padaria Batel que teve na década de 30 mais de 200 funcionários e foi um ponto de referência no bairro do Batel e na cidade de Curitiba, adquiria o trigo para seus produtos diretamente do Moinho do Comendador Francisco Matarazzo, em Antonina, que chegavam a Curitiba por trem em cargas fechadas , na época chegou abrir 60 sacas de 50kilos por dia.

Na frente à Padaria Batel, localizada na Avenida do Batel, nº 1448, Ricardo Bürgel construiu em 1921 a sua casa (Atual sede da Ecco Salva), tendo como construtor seu futuro sogro Walter Schult. Arquitetada em estilo francês . Tem porão com paredes inclinadas, telhado em mansarda (estilo afrancesado) e estrutura básica de duas águas.

Ricardo Bürgel casou-se em 1922 com Olga Schult (1903/1995) que também vivia no bairro. Ao registrar seu primeiro e único filho, em 1934, Ricardo e Olga se viram obrigados a abrasileirar o nome escolhido, Lothar, para Lotario. Novamente se presenciava a prepotente interferência dos cartorários na vida dos imigrantes no Brasil, em razão de muitos destes ainda não possuírem o domínio do nosso idioma.

A Padaria Batel foi administrada por Ricardo Bürgel e seus irmãos Arnoldo e Adolpho até os anos 70, quando Lotario e seu primo Léo Bürgel, filho de Arnoldo, assumiram o negócio. Em 1986, resolveram encerrar as atividades da Padaria Batel devido à proibição de queima de lenha em seus fornos, à alta do preço do cacau, bem como à necessidade de adaptação das embalagens ao peso impresso – naquela época ainda não existia a venda fracionada por peso. A antiga construção da Padaria Batel, tombada pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Curitiba, onde funcionou por mais de 100 anos, ficou fechada por alguns anos, sendo negociada com um grupo de empresários de Curitiba. Em março de 2013, se deu início à demolição da antiga fábrica, marco da panificação no Brasil, para a construção de um novo investimento imobiliário. Termina assim, infelizmente, essa bela história dos pioneiros da indústria de Curitiba. Padaria Batel – Panificadora dos Bürgel no bairro do Batel.

Renato Munhoz Bürgel – Filho de Lothar, neto de Richard e bisneto de Franz Bürgel fundador da Padaria do Batel.
Advogado, empresário, produtor esportivo, atualmente a frente da Bird Produções responsável pela corrida contra o relógio do Parque Barigui criador do blog Amigos do Parque Barigui

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