Entrevista com Manoel de Souza Neto
Da Redação
Conversamos com o pesquisador, produtor cultural e Conselheiro Nacional de Cultura (MINC 2010-12), Manoel J de Souza Neto. Um bate papo franco sobre cultura, musica, políticas, direitos autorais e tecnologia. Para isso nos encontramos com ele no MEB – prêmio da Música Eletrônica Brasileira, onde apresentou uma palestra sobre sua atual pesquisa que investiga a história das pistas e Djs em Curitiba desde o final dos anos 70.
Manoel, nos conte um pouco sobre suas pesquisas, projetos e no que mais anda envolvido.
Meu projeto de vida tem sido as pesquisas culturais. Tenho pesquisado história da música paranaense, políticas culturais e sociologia da música, o que leva a participações em atividades variadas, desde congressos, artigos, pesquisas, conselhos de cultura e consultorias. No momento tenho a missão complicada de montar um museu independente do poder público.
Como surgiu e qual o objetivo do MUSIN ( museu do som independente ) ?
O Musin surgiu através da pesquisa e documentação sobre a música paranaense, iniciada por mim em meados de 90, se consolidando com o lançamento do livro A desconstrução da Música na Cultura Paranaense (2004), resultando em mais de 100 citações em artigos e monografias. Atualmente estamos recebendo grupos de estudantes e concluindo projetos estruturantes que irão permitir o avanço das pesquisas em musica paranaense em um sentido amplo, como a analise da bibliografia geral, catalogação das obras musicais, entre outros.
A cultura do Remix na música eletrônica, atravessa fronteiras, o que mudou no mundo com a internet e a cultura digital?
A cultura do remix é a nova alternativa de democratização da cultura e da mudança dos paradigmas da sociedade e do mundo do trabalho. Estamos vivenciando uma nova sociedade do conhecimento, onde mais acesso as informações resultam em novas manifestações culturais.
Qual o papel da musica eletrônica na cultura?
A cultura das pistas, da música feita para dançar é determinante para estabelecimento de novas relações sociais, moda, sexualidade, modos de vida, e mais importante ainda para trocas culturais entre os povos, pois a música eletrônica incorpora culturas e tradições e torna a música sem fronteiras.
Você acredita que a cidade de Curitiba está atrasada ou adiantada nessa Cultura? Explique
Curitiba apesar de ser reconhecida como capital cultural, tem sido alvo de uma contradição. Se de um lado existem criadores em todos os estilos musicais, não tem apoio da mídia. No fundo, o curitibano médio, vai a clubs para ouvir música feita pelos outros. Sem este apoio, a cidade passa por uma crise de identidade permanente, resultando em prejuízos variados que vão desde ordem simbólica até mesmo econômicos, considerando que o Estado paga somente ao ECAD mais de 20 milhões de reais ano, dinheiro que vai embora.
Comente sobre a História da cena Eletrônica em Curitiba
A cena eletrônica da cidade poderá ser melhor entendida em breve no livro que iremos lançar em parceria com a Yellow (Academia de Djs). Um mapeamento da história dos Djs e pistas de dança em Curitiba desde os tempos da discoteca anos 70) até hoje, contado através do flyers.
Como anda os direitos autorais para os DJs? Explique sobre a nova lei do D.A.
A nova lei surgiu após a CPI do ECAD, investigação a qual pude dar minha contribuição. Vai ficar mais fácil determinar os autores e a quem é devido o pagamento. As duas principais questões são a criação de um órgão fiscalizador do ECAD. A outra novidade é o fim das cobranças indevidas. O pagamento não será mais efetuado por metro quadrado, mas por borderô, ou seja, por repertório. Os Djs terão papel importante ao declarar o que tocaram, garantindo com isso que os compositores recebam o que é de direito. Foi um avanço!