Livro de Amanda Dantas, doutoranda em Psicologia, analisa a decisão de não ter filhos e os desafios sociais da não parentalidade
O Brasil tem vivenciado uma queda expressiva na taxa de fecundidade. De acordo com o Observatório Nacional da Família, a média de filhos caiu de 2,32 por mulher em 2000 para 1,57 em 2023, com previsão de chegar a 1,47 até 2030. E a escolha de não ter filhos, que é cercada por pressões sociais, inspirou a jornalista Amanda Dantas a escrever o livro “Sem filhos, sem culpa! Uma análise sobre a decisão de não ter filhos”. Publicado pela editora Appris, a obra aprofunda esse debate em uma sociedade que ainda valoriza amplamente a maternidade. O lançamento, aberto ao público, acontece no dia 22 de março, das 17h às 20h, no Cozy Restaurante – Cozinha Afetiva, em Itaipava, Petrópolis – RJ.
Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Amanda Dantas analisa, com base em ampla revisão de literatura e entrevistas, os fatores que influenciam homens e mulheres a optarem pela não parentalidade. Entre os aspectos abordados na obra, destacam-se o impacto da independência financeira e da ascensão feminina no mercado de trabalho, o papel da rede de apoio (ou a falta dela) e as pressões sociais enfrentadas por aqueles que optam por não ter filhos.
“A sociedade construiu a ideia de que crescer, casar e ter filhos é a única forma de alcançar a felicidade e a plenitude. Eu discordo. Não quero ter filhos, tenho muitos amigos que também não querem, e quis entender a fundo os processos decisórios por trás dessa escolha. Meu objetivo com essa obra não é criar um novo imperativo de que não ter filhos é o certo, mas sim abrir espaço para que as pessoas possam decidir livremente qual caminho seguir, sem culpa e sem julgamentos, incluindo os homens nessa conversa”, afirma Amanda, também participante do Fórum do Campo Lacaniano Região Serrana do Rio de Janeiro.
O livro inicia contextualizando o leitor sobre as mudanças sociais e culturais que vêm influenciando os modelos familiares nas últimas décadas. Em seguida, aprofunda-se na análise dos processos decisórios, destacando a interação entre fatores psicológicos e sociais na escolha pela não parentalidade. Para isso, são apresentadas entrevistas com homens e mulheres que tomaram essa decisão, revelando as complexidades e nuances envolvidas nesse caminho.
“As histórias pessoais vão além de narrativas individuais e se conectam a questões sociais mais amplas, como o impacto do gênero nas expectativas da sociedade. Enquanto os homens enfrentam menos cobranças sobre a paternidade, as mulheres costumam lidar com um julgamento mais severo, sendo frequentemente questionadas sobre sua realização pessoal e futuro”, explica Amanda.
O marcador social de raça também merece destaque nesse debate. As mulheres com mais probabilidade de adiar a maternidade são solteiras, brancas, moradoras de áreas urbanas, metropolitanas e da região Sudeste do país, motivadas por aumentar o tempo dedicado aos estudos e em alcançar estabilidade profissional. Já as mulheres negras enfrentam desafios adicionais relacionados ao racismo e à desigualdade social. “Uma das entrevistadas expressou seu temor diante da maternidade, destacando o perigo constante enfrentado por pessoas negras na sociedade. Suas reflexões evidenciam como o racismo estrutural afeta não apenas a experiência cotidiana, mas também as decisões reprodutivas, criando um ambiente de insegurança e preocupação extras”, completa a autora.
Com uma abordagem acessível e fundamentada, “Sem filhos, sem culpa” é uma leitura essencial para quem deseja refletir sobre liberdade de escolha, autonomia e os novos caminhos das relações familiares. Ele não é apenas uma análise acadêmica; é um convite à reflexão sobre as diversas formas de viver em uma sociedade que valoriza a diversidade e a liberdade de escolha. A obra propõe uma discussão necessária e urgente sobre o direito de decidir, livre de culpas e julgamentos, o rumo de nossas vidas.
Sobre a editora: O Grupo Editorial Appris conta com cinco selos editoriais, das mais diversas áreas técnicas, científicas e literárias. Com 14 anos no setor e a experiência de seus editores, que atuam há mais de 35 anos no mercado editorial, a Appris possui um catálogo com mais de 12 mil obras publicadas e que continua a crescer com uma média de 70 lançamentos por mês.