Musin – Museu do Som Independente
Da Redação
A Folha do Batel conversou com o pesquisador, cientista político, produtor cultural e membro da câmara setorial de música e do Conselheiro Nacional de Políticas Culturais (MINC 2005-17), Manoel J de Souza Neto. Um bate papo franco sobre cultura, musica, políticas, direitos autorais e tecnologia.
Manoel nos apresentou seus estudos que ocorrem na atualmente no Musin – Museu do Som Independente, onde além de manter o maior acervo de música feita no Paraná, também promove outros estudos sobre economia política da música, comunicação política e guerra híbrida, espaço onde também promove cursos, orinta alunos, produz e colaborar com a escrita de artigos, produção de livros, filmes e exposições, tudo feito de forma independente (sem apoio do Estado).
Manoel, nos conte um pouco sobre suas pesquisas, projetos e no que mais anda envolvido.
Meu projeto de vida tem sido as pesquisas culturais. Tenho pesquisado história da música paranaense, políticas culturais e sociologia da música, o que leva a participações em atividades variadas, desde congressos, artigos, pesquisas, conselhos de cultura e consultorias. No momento tenho a missão complicada de montar um museu de música paranaense, de forma independente do poder público.
Como surgiu e qual o objetivo do MUSIN ( museu do som independente) ?
O Musin surgiu através da pesquisa e documentação sobre a música paranaense, iniciada por mim em meados de 90, se consolidando com o lançamento do livro A desconstrução da Música na Cultura Paranaense (2004), resultando em mais de 200 citações em artigos e monografias. Atualmente estamos recebendo grupos de estudantes e concluindo projetos estruturantes que irão permitir o avanço das pesquisas em musica paranaense em um sentido amplo, como a analise da bibliografia geral, catalogação das obras musicais, indexação de documentos entre outros. O museu cresceu muito, na atualidade 200 mil documentos, mas não tem recebido apoio algum do poder público, ainda que exista obrigação legal do Estado, por este motivo, na atualidade estamos buscando parcerias para ampliação do espaço e das atividades.
Quais pesquisas vocês tem realizado na atualidade no Museu?
Estamos realizando diversos mapeamentos culturais, e estudos do campo histórico, teórico, sociológico, político e econômico, sendo a maioria relacionados a música local, mas apesar de serem mais de 70 linhas de pesquisas elas se enquadram basicamente em três eixos. O primeiro, é o acervo da música paranaense, tem materiais como fanzines, jornais, fotos, discos, CDs, cassetes,, cartazes e flyers de shows e festas que vão da MPB, rock, música eletrônica. Só de gravações de músicas de paranaenses são 30 mil músicas, enquanto cartazes e flyers de shows de bandas e material dos DJs e de pistas de dança locais, são dezenas de milhares.
E quais são as outras linhas de pesquisas que vocês tem feito?
O segundo eixo de estudos, é o da economia política da música, revelam as contradições entre capital trabalho, cenas independentes e multinacionais no acirrado mercado da música, comparando o caso brasileiro com o mercado global. Se trata de uma analise materialista histórica e dialética das relações desse mercado bilionário que vem passando por enormes transformações graças as mudanças tecnológica como a internet, streaming e plataformas de vídeo, que provocam mudanças nas relações e formas sociais do consumo e prática da música. Já o terceiro eixo de pesquisas, reúne mais de 300 mil arquivos coletados ao longo de 10 anos, é mais atual, pois se tratam de estudos sobre comunicação política e guerra híbrida, que afetam os fenomenos sociais e políticos de nosso tempo. Acredito que este tema, é bem popular e está na boca do povo, por ser relacionado aos estudos de facebook, whats, redes de fakenews, uso de bots, algoritimos e de como isso interfere na opinião pública, comunicação política, mídia e democracia.
Você acredita que a cidade de Curitiba está atrasada ou adiantada nas questões culturais e do mercado do entretenimento? Explique
Curitiba apesar de ser reconhecida como capital cultural, tem sido alvo de uma contradição. Se de um lado existem criadores em todos os estilos musicais, não tem apoio da mídia. No fundo, o curitibano médio, vai a clubs e bares para ouvir música feita pelos outros. Sem este apoio, a cidade passa por uma crise de identidade permanente, resultando em prejuízos variados que vão desde ordem simbólica até mesmo econômicos, considerando que o Estado paga somente ao ECAD mais de 60 milhões de reais ano, dinheiro que vai embora. O agravante nessa situação é que associações de bares como ABRABAR tem relatado dificuldades diante do poder público, dos espaços conseguirem alvarás para realização de atividades musicais. A Feturismo vai na mesma linha de pensamento, em seminários recentes expôs a necessidade de alinhar atividade turística com a cultura local. A OMB – Ordem dos Músicos do Brasil vai mais longe, tem inclusive protocolado ofícios, e pedidos na câmara de vereadores, para que a música nas ruas de Curitiba seja liberada. Existe grande resistência da prefeitura e dos órgãos públicos, de fiscalização, PM e urbanismo, que vem multando músicos que tocam um simples violão na rua XV de Novembro. É fundamental que se apoie a cultura local para o desenvolvimento da região.
Você citou o caso do ECAD. Como funciona essa arrecadação? Para o Paraná é vantajoso?
A nova lei surgiu em 2013, após a CPI do ECAD, investigação a qual pude dar minha pequena contribuição. Desde então se crou fiscalização sobre o ECAD feita na DDi do antigo MINC. Mas essas ações não me aprecem muito efetivas. Ficou um pouco mais fácil determinar os autores e a quem é devido o pagamento. Ainda que tenha avançado, a Associação Brasileira de Tv a Cabo e a ABRABAR, bem como setor de hotelaria venceram ações contra o ECAD nos últimos anos, isso devido a falta de critérios claros de arrecadação e distribuição. Essas questões visam garantir que a música executada, seja arrecadada e o dinheiro retorne ao autor integralmente. O que ocorre é que é feita essa definição dos pagamentos por amostragem e não pelo total. Por exemplo, a música do Paraná é prejudicada. No comércio, bares entre outros, é arrecadado mais de 60 milhões só em nosso Estado ao ano, e algo entorno de pouco mais de 1 milhão retornam aos nosso autores. Então o Paraná paga enormes taxas e esse dinheiro vai dar retorno em outro lugar do mundo, e será gasto no comércio, lá de Los Angeles, NY ou Londres. Está na hora do Paraná solucionar isso, o comércio ao tocar a música de autores locais ns caixas de som, as emissoras de rádio locais, e todos (da ACP, ABERT até a prefeitura) exigindo ao ECAD a justa distribuição da nossa parte.
Contatos: neto.manoeljdesouza@gmail.com