São Paulo e Rio de Janeiro concentram um grande número de jornais de bairros, mas não tanto quanto Curitiba: 53 jornais de bairros circulam na capital dos paranaenses. O número é o maior entre todas as cidades brasileiras, dando a Curitiba o título de “Capital nacional dos jornais de bairros”. Isto é, capital nacional da imprensa comunitária.
Curitiba é uma cidade onde a mídia escrita não está monopolizada por poderosos grupos econômicos ou famílias poderosas, graças aos jornais de bairros.
É difícil precisar com exatidão o surgimento do primeiro jornal de bairro de Curitiba. Nas décadas de 1980 e 1990 teriam surgido os primeiros jornais de bairros. O Jornal Água Verde, cuja primeira edição circulou em abril de 1991, manteve publicação ininterrupta durante quase três décadas – 27 anos, e continua circulando.
Embora o número seja elevado – 53 jornais de bairros -, demonstrando resistência em um mercado onde grandes jornais faliram ou fecharam suas portas nos últimos anos, uma grande parte desses jornais trabalha de forma incipiente; mas a maioria produz matérias próprias, defende os interesses das comunidades onde estão inseridos, isto é, não se limitam a – preguiçosamente – copiar ou reproduzir matérias de alguns sites.
No ano passado, durante reunião da Associação dos Jornais de Bairros do Paraná com o prefeito Rafael Greca, o prefeito falou da importância dos jornais de bairros, a mídia escrita que resiste ao tempo enquanto porta-voz das comunidades.
Antes do surgimento dos jornais de bairros os grandes jornais de Curitiba só publicavam matérias policiais sobre os bairros. Foram as próprias comunidades organizadas que fortaleceram os jornais de bairros para que suas vozes fossem ouvidas, e os bairros passassem a ser considerados e respeitados na mídia escrita.
Defensores das mídias digitais argumentam que o tempo da imprensa escrita passou, que os jornais impressos teriam sido superados pela mídia digital. Mentira. O jornal de bairro não sofre com o surgimento da mídia digital porque é uma mídia concreta, entregue nas mãos do consumidor, onde ele comprova o resultado da sua publicação de forma real. O jornal entregue gratuitamente na vizinhança do comerciante que anuncia é a melhor forma de obter retorno, porque a internet é “terra de ninguém”, onde circula muita mentira, muita fake news.
Alguns vendedores de mídias digitais apresentam relatórios fantasiosos sobre alcances de anúncios veiculados em sites, mas não dizem que quase um terço dos cliques em propagandas digitais em todo o mundo é feito, na verdade, por robôs. As práticas fraudulentas já equivalem a 29% do tráfego relativo a anúncios digitais na internet, declarou Keith Weed, diretor global de marketing da Unilever, em apresentação no Festival de Cannes Lions, na França. Segundo o executivo, os robôs, chamados de bots, causam perdas de US$ 6 bilhões a US$ 10 bilhões globalmente. Qualquer pessoa pode contratar serviços de um robô para ficar clicando no seu site ou anúncio – mas isso é fraude.
No Rio de Janeiro o Jornal do Brasil abandonou a forma impressa e se arrependeu. Anos depois voltou a circular na forma impressa.
Diversos jornais de bairros de Curitiba contam com sites muito bem feitos. Na maioria dos casos, o número de leitores no site do jornal supera em muito o número de leitores da edição impressa, fazendo com que o anunciante ganhe duas vezes: na edição impressa e na edição digital.
A maior parte das agências de propaganda, detentoras das grandes contas publicitárias, não anuncia nos jornais de bairros porque os valores dos anúncios são baixos, e, portanto, as comissões das agências são pequenas. Preferem mídias caras porque ganham mais, mesmo considerando que para o anunciante a mídia de bairro seja mais interessante e lucrativa.
Grandes empresas nacionais e internacionais escolhem Curitiba para o lançamento de produtos. Dizem que se o produto é aprovado em Curitiba, ele conquistará o país. E o mesmo se aplica aos jornais de bairros. Não é por acaso que os jornais de bairros dão certo em Curitiba. O custo do jornal de bairro é muito pequeno se comparado a outras mídias. Na maioria das vezes o proprietário do jornal de bairro é o fotógrafo, o repórter, o redator e o vendedor do jornal.
A mídia comunitária é a verdadeira imprensa democrática, livre, soberana, não atrelada a grupos econômicos ou políticos que dominam e manipulam as comunicações.
Por José Gil, diretor do Jornal Água Verde primeiro jornal de bairro de Curitiba